quarta-feira, 12 de junho de 2013

Em busca da felicidade

Quem é de peixes sofre. Quem é brasileiro sofre. Quem tem coração sofre. Quem não sofre?
Me lembro pouco da minha infância, tenho péssima memória exceto para nomes e fisionomias. Lembrar datas, compromissos e tomar remédios nem pensar. Aliás sobre este último, faço questão de não lembrar. Não gosto de remédio, porque ele te mascara, mascara os outros. Ai que absurdo, pessoas morreriam se não fosse pelos remédios, mas eu odeio que ele tenha que existir, porque odeio saber que se estou com uma dor e tomo um remédio, a dor continua lá, mas eu não sinto. É esconder o problema de si próprio. De vez em quando é bom sentir dor, o problema é quando se sente dor sempre. Eu sofro por dores maiores que eu, maiores que qualquer coisa que eu possa combater sozinha ou com alguém.
Como eu dizia, quase não lembro da minha infância, mas lembro de ter sido feliz, de rir o tempo todo com motivo ou sem, de estar feliz a todo momento, de reclamar apenas quando minha mãe não queria comprar alguma coisa no mercado pra mim, ou quando eu não podia descer no prédio e ficar até tarde brincando com meus amigos, mas no geral, me lembro de ter sido feliz. Era uma época linda onde eu ia pra escola, ouvia os professores falando sobre várias coisas e eu pensava em absolutamente nada, apenas que a escola era um lugar legal onde a gente aprendia coisas que não iríamos usar nunca e outras coisas que seriam importantes pra sempre. Onde eu brincava ou mais tarde conversava com os amigos. Onde depois dos horários de aula eu praticava esportes, de novo com amigos. E quando eu ia pra casa eu assistia alguma coisa legal na tevê, ia comer no Mc Donalds, encontrava com mais amigos, encontrava com meus pais (pai e mãe), eles se preocupavam em saber o que eu tinha feito de bom na escola.
Eu assistia meus programas preferidos, e sempre antes da novela eu assistia com meus pais o Jornal Nacional. Na verdade eu ficava apenas sentada no sofá, com meus pais assistindo o Jornal Nacional, e eu não entendia direito o que as notícias significavam, não entendia e por isso sequer prestava atenção. Eram dias felizes, onde eu vivia feliz ignorando os fatos do mundo lá fora, fora da minha casa, fora da minha escola, fora do shopping que eu ia passar um tempo com minhas amigas, fora dos tempos que eu passava com meus primos.
Só que alguma coisa aconteceu por volta de 2006/2007/2008. Bem possível que tenha sido o fato de eu ter virado adulta, de meus amigos terem virado adultos também. Acho que bem sutilmente, o mundo foi se instalando nos meus ombros. Na minha infância eu conhecia no máximo umas 100 pessoas, entre colegas e amigos de escola e do prédio, e amigos de amigos, e familiares. Então o orkut que eu já usava bastante me fez "conhecer" mais gente. Depois o facebook deu um up-grade na minha "adultez" e me trouxe opiniões de muita gente. Eu percebi como o mundo é grande e diversificado. Percebi como as pessoas podem ser extremamente iguais ou extremamente opostas. Eu comecei a stalkear todo mundo no Facebook, não uma pessoa específica por conta de uma paixão platônica ou algo do tipo, mas TODO MUNDO, pessoas que estavam adicionadas aos meus amigos ou não. Pessoas que compartilhavam opiniões de outras pessoas. Pessoas "x" cujas quais eu nunca seria amiga. Stalkear apenas pela curiosidade de saber o que os outros pensam. Vontade de saber sobre todas as pessoas que existem no mundo.
Foi assim, bem aos poucos, que eu comecei a ser menos feliz, rir menos, pensar mais sobre as outras pessoas. Foi por conta da internet, espaço onde mergulhei de cabeça que eu comecei a saber sobre muita gente, me aproximar da vida de muita gente. Se é a verdadeira vida dessa gente exposta na internet ou é fake, eu não sei, mas não importa muito pra mim, o que me importa é saber, ler, entender, tentar entender, tentar criar laços de pensamentos com os outros, tentar formar minhas opiniões baseadas em opiniões diversas. E foi esse o motivo da minha total tristeza hoje.
As pessoas não me deixam triste, mas os fatos que elas me trazem todos os dias sim.
Fora os problemas que tenho comigo mesma, com minhas indecisões, incertezas, desistências, falta de fé, falta de tanta coisa, ainda me vem diariamente notícias horríveis sobre o mundo, esse que antes na infância eu achava que era apenas os lugares que eu frequentava. Hoje eu posso ir à lugares apertando apenas o botão do mouse, e me deparar a cada minuto, por causa da minha curiosidade e vontade de ter todas as respostas ao mesmo tempo, com infelicidades que acontecem por aí.
Ou seja, não bastasse a minha tristeza, estando dentro de casa, de olhos fechados, de ouvidos tampados, sem conseguir respirar, ainda me vem o peso do mundo que me faz cavar um buraco no chão cada vez mais fundo, como se eu fosse uma pá e o mundo fosse um jardineiro forte que cava buracos na terra com facilidade e rapidez. Virei um Atlas atual.
Ai eu fico pensando num jeito de ser feliz, de acabar com toda tristeza que entrou em mim e deixou meu coração pequeno e apertado, e quando ligo o computador ou ligo a televisão ou abro o jornal, me vem na cara um sopro de desesperança. Um sopro que diz "não dá pra ser feliz Carla, as pessoas são infelizes, não todas, mas muitas. As pessoas morrem por nada, como se a vida fosse um fio de cabelo frágil, as pessoas passam fome, frio, sede. As pessoas passam medo sem motivo, são injustiçadas diariamente e abaixam a cabeça pra injustiça. As pessoas perdem amores, e passam a vida inteira procurando até um dia perder a esperança. Pessoas são discriminadas pela aparência, pelo gosto por determinada coisa, por simplesmente terem nascido diferentes de Adão e Eva. Pessoas não tem tempo de sonhar de noite, porque dormem tarde e acordam cedo."
As pessoas estão sofrendo todos os dias a cada minuto, e não importa se eu fico no auge da minha felicidade quando estou dançando numa balada porque sei que tem pessoas que não conseguem simplesmente colocar um pé na frente do outro porque levaram um tiro de bala perdida e ganharam uma cadeira de rodas.
Porque eu preciso buscar a felicidade toda hora, buscar a felicidade, buscar, ir atrás dela, e quando consigo chegar perto, algo tão profundamente triste acontece que eu paro no meio do caminho e desisto.
Porque sempre há uma pedra no meio do caminho.
Porque não dá pra ser feliz sabendo que o mundo está triste.
Porque não dá pra querer viver sorrindo num mundo que está morrendo chorando.