"Você tem uma ânsia, um apetite
que me esgota. Ninguém pode viver
tendo que se empenhar até o limite
de suas forças, sempre, pra fazer
qualquer coisa. É no amor, é no trabalho,
é na conversa, você me exigia inteiro,
intenso, pra tudo, caralho...
Tinha que olhar pro céu pra dar bom-dia,
tinha que incendiar a cada abraço,
tinha que calcular cada pequeno
detalhe, cada gesto, cada passo,
que um cafezinho pode ser veneno
e um copo d’água, copo de aguarrás..."
Breviário Gota d'água
É muito apetite por essas palavras, fome de devorá-las
vontade de encontrar (e já encontrei em muitas) pessoas o que me dá vontade de experimentar nelas
o quanto a experimentação delas tem a ver comigo e o quanto não tem
o quanto, de tudo que vem a mim, é de mim e não é
e como o que não é de mim me causa comoção a ponto de querer beber, mastigar, consumir
você tem sede de quê?
você tem fome de quê?
a essência e o ser dos outros não me mantém viva, respirar me mantém viva
mas me aquece e me inebria, faz ferver o sangue que consumo a cada dia
eu tenho sede de que (!)
eu tenho fome de que (!)
o agror vira sabor
se vira e se desvira, se enterra em chamas vivas
sobre cinzas e algumas vontades de potência (muitas, infinitas)
vivacidade, grandes explosões de ardor dentro da massa desejo,
massa não falida, ao contrário, muito bem sucedida
e o que os olhos examinam e a cabeça deduz
me sobra espaço e tempo, me sobra alegria, não falta luz
potencial que vem das milhões de luzes acesas encontradas pelo cérebro (máquina)
do conhecer, encontrar, e não deixar nunca desvencilhar, ou deixar
abrir espaço, gerar lugar pra mais e mais e muito mais, não deixar parar
pulsar sempre, sempre pulsar